A Juíza e a sua história - Dra. Ivna Freire - TJMA

A Juíza de Direito Ivna Freire, do Tribunal de Justiça do Maranhão, conversou nesta semana com a ANAMAGES.
Por Danusa Andrade.
Publicado em 31/08/2023 às 10:40. Atualizado há 8 meses.

LogoDra. Ivna Freire, do TJMA.

Natural de Apodi, no interior do Rio Grande do Norte, a Juíza de Direito Ivna Freire, do Tribunal de Justiça do Maranhão, é a nossa convidada desta semana do quadro “A Juíza e a sua história”.

Filha mais velha de uma família de três irmãos, a Magistrada teve a experiência da vida tranquila do interior até a mudança para a capital, Natal, aos 10 anos de idade, em busca de uma boa formação escolar. Após concluir o curso de Direito na Universidade Potiguar, ela teve um grande aprendizado ao cursar mestrado em Direito Internacional Público pela Universidade Clássica de Lisboa, período em que precisou trabalhar em atividades diversas aos finais de semana - como caixa de supermercado e vendedora de perfumes – para custear as suas despesas.

Ao retornar da Europa, a Dra. Ivna advogou por três anos e encampou o desafio de estudar para concursos públicos ao lado do irmão Bernardo, viajando o Brasil todo em busca deste sonho, colecionando algumas aprovações. Nessas andanças, a Magistrada conheceu o marido, na época também concurseiro, no Maranhão, e lutaram juntos até a aprovação na Magistratura maranhense, em 2015, celebrando também a aprovação de Bernardo e de sua esposa no mesmo concurso.

Com muita dedicação ao ofício, a Dra. Ivna iniciou na judicatura em Pindaré-mirim e atualmente é titular na Comarca de Santa Inês.

Confira a entrevista que ela concedeu à ANAMAGES.

ANAMAGES: Quem é a sua grande inspiração de vida?

Dra. Ivna: O meu avô paterno foi uma grande inspiração no sentido da educação. Ele foi soldado da borracha em Manaus e nunca frequentou uma escola porque, quando foi tentar se matricular, não deixaram-no estudar pelo fato dele não ter roupas, e não havia dinheiro para comprá-las. Ele foi autoditada, aprendeu a ler e a escrever sozinho, e o seu sonho era ver todos os filhos formados, o que se concretizou inclusive com os netos.

A minha avó materna sempre dizia que, para nós, mulheres, tudo era mais difícil, que a gente tinha que se voltar para a educação para nos colocarmos onde quiséssemos e que as mulheres não poderiam aceitar o lugar que a sociedade impunha a elas. Essas inspirações me davam muita força para estudar.

ANAMAGES: O exercício da Magistratura exige um profundo comprometimento e muitas vezes o tempo de convivência familiar é substituído pelo trabalho. Como a senhora lida com esta situação?

Dra. Ivna: O meu esposo está na mesma carreira, então conseguimos entender um ao outro. A criança sente falta e para elas é um pouco mais dicícil a compreensão, mas eu amo tanto o que eu faço, eu sou tão feliz diariamente no meu ofício, que as vezes eu não me permito sentir culpa por não ser tão presente quanto em gostaria de ser com as minhas filhas. Eu me sinto bem fazendo o que eu faço, sendo Juíza no interior do Maranhão.

ANAMAGES: Como as suas filhas encaram essa realidade, de terem que abdicar da presença da mãe em alguns momentos, por conta da carreira que a senhora exerce?

Dra. Ivna: Eu tento conciliar o meu trabalho com a educação das minhas filhas. Estamos constantemente de plantão, as vezes eu chego do trabalho e preciso ir para o computador. Elas questionam a minha ausência, mas eu tento compensar de outras formas, porque a nossa dedicação com a Magistratura é muito intensa. Como a gente trata de vida, de liberdade das pessoas, isso não pode esperar e elas vão, aos poucos, compreendendo a natureza do meu trabalho.

ANAMAGES: Quais foram os maiores aprendizados que a sua carreira lhe proporcionou?

Dra. Ivna: Todos os dias temos novos aprendizados, mas o maior deles que eu tiro da carreira é que eu não preciso ser autoritária, eu não preciso me impor para as minhas decisões serem efetivas. Eu posso perfeitamente ser simples, cortês, educada e as minhas decisões serem efetivas. Esse é o aprendizado que eu tenho diariamente, que respeito a gente conquista.

ANAMAGES: O concurso da Magistratura é um dos mais concorridos e exigentes das carreiras jurídicas. Ainda assim, alguns Magistrados, em determinados momentos de suas vidas, decidem abandonar a toga, por variados motivos. O que a faz se manter firme no propósito?

Dra. Ivna: De fato, eu me lembro bem da dificuldade que foi passar no concurso da Magistratura. São várias etapas, é um concurso muito difícil, muito concorrido, provas difíceis, de longa duração, muitas vezes fazendo provas sexta, sábado e domingo. E ainda têm as provas orais, que mexem muito com o nosso psicológico. O que faz eu me manter firme na carreira, apesar de todas as dificuldades que nós, juízes do interior, passamos, é por ser um ofício gratificante, decidindo sobre a liberdade, sobre a vida, sobre o patrimônio de uma pessoa, e saber que ali, naquele momento, eu estou entregando uma decisão célere, que está fundamentada com os critérios legais.

Sabidamente não agradamos a todos, mas o que me faz seguir firme no propósito é o fato de eu dar o exemplo para as minhas filhas, de ser útil em meu trabalho.

ANAMAGES: Qual a mensagem que a senhora gostaria de transmitir para jovens que tencionem seguir a carreira da Magistratura?

Dra. Ivna: A mensagem que eu eu transmito é para que os candidatos não desistam. Muitas vezes a gente pensa em desistir da carreira, do concurso, por achar difícil, e é difícil mesmo. Mas o gosto do difícil, só mesmo quem passou para experimentar o quanto é bom, o quanto é gratificante. Teremos outras dificuldades durante a carreira, mas vale cada momento. Um pouquinho do nosso trabalho pode fazer a diferença na sociedade que a gente vive. Então, vale a pena.