Hoje a ANAMAGES evidencia a trajetória do juiz de Direito Giuliano Máximo Martins que soma 19 anos de experiência no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul.
Conselheiro da ANAMAGES representando o estado, Dr. Giuliano atualmente exerce a função de juiz auxiliar da capital, Campo Grande.
Paulista, Dr. Giuliano ingressou no concurso da magistratura sul-mato-grossense em 2006. Foi titular das comarcas de Porto Murtinho e Aquidauana (onde atuou por oito anos na Vara Criminal e depois por cinco anos na 1ª Vara Cível) até a chegada à capital, em novembro de 2023.
Com consciência da importância da atualização intelectual, o magistrado é pós-graduado em Ciências Penais e em Processo Penal, é mestre em Ciências Jurídicas pela Universidade de Lisboa e possui diversos artigos científicos publicados, sendo o número mais expressivo relacionado ao tema de sua pesquisa do mestrado que tangencia o depoimento especial de crianças e adolescentes.
Desde os primeiros desafios do início da carreira até a maturidade alcançada em quase duas décadas na judicatura, Dr. Giuliano segue centrado em garantir uma boa prestação jurisdicional, buscando mecanismos que resultem em produtividade e qualidade no atendimento. Confira a entrevista para a ANAMAGES.
ANAMAGES: Em que momento de sua vida o senhor identificou a inclinação para a carreira da magistratura?
Dr. Giuliano Martins: Quando eu concluí a graduação havia o desejo de prestar concurso para o Ministério Público, então eu passei a estudar direcionado a essa carreira, mas ao assumir um concurso de servidor público do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em São Paulo, a inclinação para a judicatura começou a surgir ao conhecer o trabalho de alguns juízes - entre eles o Dr. Sidimar Dias Martins e a Dra. Suzana Camargo (ele juiz federal e ela desembargadora na época).
Observando o trabalho desses profissionais, a maneira como impactavam a vida das pessoas, analisando um processo e sabendo que ele representa uma pessoa, uma vida, surgiu um interesse muito forte.
A partir daquele momento, eu passei a prestar somente concursos para a magistratura até a aprovação no TJMS. Estou muito feliz no estado, aqui eu formei família, aqui nasceram as minhas filhas, sinto-me muito acolhido e feliz de estar aqui.
ANAMAGES: Como o senhor avalia a importância da experiência no interior e quais aprendizados o senhor coleciona desse período?
Dr. Giuliano Martins: Eu fiquei quase 18 anos no interior, um tempo considerável de carreira e achei que foi um período muito válido por diversos fatores. O primeiro deles é o contato direto com o dia a dia da cidade. Como normalmente no interior são poucos juízes, acabamos sendo reconhecidos em alguns lugares e vivemos a vida de juiz não só no fórum e isso é bacana porque passamos a ter contato com outras pessoas, a perceber a visão delas do judiciário e observamos que o judiciário pode ajudar e muito nos processos.
Eu particularmente gostei muito, vivi plenamente as cidades onde eu morei. Sempre frequentava igreja, fiz muitos amigos e foi de um crescimento pessoal muito grande porque você acaba misturando a condição de autoridade com a condição de cidadão, de qualidade de vida, então foi uma experiência muito rica e feliz.
ANAMAGES: Qual a sua visão sobre as diferenças culturais observadas no estado?
Dr. Giuliano Martins: Eu sou paulista, passei no concurso com 26 anos, cheguei no estado solteiro. No início foi um choque, primeiro pela alta temperatura em Porto Murtinho. Além disso existe também a questão da gastronomia que é um pouco diferente, mas muito bacana.
Eu ainda sou inclinado ao café, não consegui me acostumar com o tereré, mas passei a apreciar comidas típicas locais como chipa e sopa paraguaia. Quando passamos a vivenciar a realidade do estado, as coisas passam a ficar mais leves.
ANAMAGES: Comente qual a metodologia de trabalho empregada em seu gabinete para alcançar resultados positivos em relação aos índices de produtividade conciliados com a boa prestação jurisdicional.
Dr. Giuliano Martins: Vamos aprimorando o método de trabalho ao longo dos anos e é uma questão de gestão de processos e de gestão de pessoas. Não é mais um juiz que tem o conhecimento de todo o ordenamento jurídico, das leis, da Constituição. A gente precisa saber gerir isso porque a quantidade de processos é muito grande e isso proporciona um grande aprendizado.
Às vezes eu faço uma comparação do Poder Judiciário com empresas que precisam apresentar bons resultados, mas sem esquecer do principal, que é a responsabilidade exigida ao nosso trabalho que é intelectual e muitas vezes temos que maturar alguns processos para dar uma resposta – o que não quer dizer que temos que ser lentos.
Eu procuro trabalhar com produtividade principalmente nas demandas em massa, aquelas que são muito semelhantes, e dou uma atenção maior àqueles processos diferenciados. Desta forma eu consigo manter um equilíbrio entre produtividade com prestação jurisdicional de qualidade, que é o mais importante.
E obviamente que vamos nos reinventando a cada dia, buscando atualizações para analisar cada tipo de ação que chega na vara para que a gente possa dar uma resposta adequada ao que as pessoas esperam do Poder Judiciário.
ANAMAGES: Quais foram os momentos mais emblemáticos de sua carreira?
Dr. Giuliano Martins: O primeiro foi como juiz eleitoral em Porto Murtinho. Havia uma disputa muito grande entre dois grupos fortes na cidade, com registros de agressão física entre os correligionários.
Esse momento representou um desafio, pois eu estava no início da carreira e foi uma eleição que me marcou muito e me proporcionou muita maturidade.
O segundo momento foi quando eu recebi uma ameaça de dentro do presídio quando eu estava na Vara Criminal. Isso choca no momento, ficamos um pouco assustados e até o fim da investigação que mostrou que não era bem aquilo eu fiquei apreensivo. Por um tempo eu precisei de escolta e isso não foi uma experiência positiva para a minha família.
Esses dois momentos foram muito sensíveis à minha vida e hoje depois de decorrido algum tempo já é possível comentar sobre esses episódios.
Além disso, me marca muito a continuidade dos estudos. Não podemos parar nunca porque o mundo é dinâmico, as coisas mudam muito rápido e precisamos tentar prestar o nosso serviço, a nossa jurisdição de maneira adequada e rápida.